Mais do que um instrumento de adivinhação, o Jogo de Búzios é um oráculo ancestral que permite diagnosticar os problemas do consulente que a ele recorre, enquanto simultaneamente indica a solução, caso esta exista, para esses mesmos problemas. È o único oráculo capaz de o fazer.
O seu nome origina na palavra Erindinlogun, cuja tradução é dezasseis, e seria o sistema utilizado em África pelos Yorubás para comunicar com o plano divino. No Candomblé, religião Afro-Brasileira em que o Merindilogun é permitido, é entregue ao sacerdote no ritual de Oyê depois da sua obrigação de Odu Ejé (sete anos). Apenas sacerdotes devidamente habilitados e com as suas obrigações cumpridas poderão joga-lo legitimamente, assim como efectuar os ebós(trabalhos) indicados.
Ao consultar o jogo de búzios, são transmitidas ao consulente as mensagens que os Orisás para si destinam, sendo a função do Sacerdote que efectua a leitura, decifrar e interpretar, transmitindo ao interessado. A vontade pessoal de quem lê o jogo não tem lugar neste ato sagrado, embora a legitimidade, preparação, mediunidade e conhecimento do sacerdote sejam de extrema importância de forma a “ler” correctamente o que se lhe apresenta.
Porquê fazer uma consulta de Búzios?
De forma muito aligeirada, podemos dizer que devemos consultar os búzios da mesma forma como utilizamos os serviços de um médico: para uma consulta de rotina ou para diagnosticar e interpretar sintomas e sinais de algo mais grave e sério. O Babalorisá (Pai de Santo) será visto como um agente competente para interpretar as mensagens que lhe são transmitidas, avaliar a situação de quem está sentado à sua frente e aliviar ou eliminar as maleitas espirituais detectadas. Estas poder-se-ão ou não reflectir no quotidiano da pessoa, mas quando assim acontece (a maioria das vezes), apresentam-se sobre a forma de bloqueios que parecem inultrapassáveis, dificuldades e falhanços constantes, desespero, fraqueza e inclusive maleitas de ordem física não diagnosticáveis pela medicina tradicional.
Tal como nesta não existem tratamentos mas sim pacientes, no jogo de búzios não existem ebós (trabalhos) mas sim consulentes. Cada caso é ímpar e irrepetivel. A cada individuo terá de ser aplicada uma forma e uma formula adaptadas ao seu problema, personalidade, espiritualidade e situação, de forma debelar tudo o que o apoquenta.
Serve também o Merindilogun para produzir aconselhamento e caminho nas bifurcações da vida, ajudando a fazer a escolha mais correta e com maiores probabilidades de sucesso. O destino de cada um pode ser alterado pelas decisões tomadas e pelas ações praticadas, pelo que as mensagens dos Orisás funcionam como um excelente mapa de bordo para o caminho pretendido.
No caso do consulente ser Omo Orisá (filho de Santo), cabe ao seu Zelador espiritual (Pai ou Mãe de Santo) decidir quando e porquê o jogo deverá ser deitado, auxiliando a encaminhar e organizar a vida do primeiro.
Nunca deverá ser o Merindilogun consultado como chacota ou coisa pouco séria. O respeito por tão sagrado instrumento, assim como pela fé e religião de quem o “lê” é fundamental para que o sucesso da leitura seja pleno. Pelo contrário, ao invés de auxiliar, certamente pagará quem cometer tal desaforo.
Que Ògún seja sempre por nós!
Babablorisá Miguel d’Ògún